O FUTURO – The Future

Cartaz do filme O FUTURO – The Future
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Opinião

O futuro de ponta-cabeça – gostei do cartaz do filme. Aliás, que futuro? Que perspectiva? Quais são os planos? Nenhum, a não ser adotar um gato. E ao se deparar com essa mudança no futuro próximo, que chega em 30 dias, o casal Sophie (Miranda July, também a diretora) e Jason perde o chão. Será que conseguirão lidar com tamanha responsabilidade? Fará sentido continuar fazendo um trabalho sem graça, que não gostam, diante dessa mudança tão importante que está para acontecer? Antes de chegar o gato, que mudará suas vidas para sempre, é preciso aproveitar, correr atrás do sonho, desligar a internet, porque depois disso tudo estará acabado.

Este é o panorama irônico de O Futuro, logicamente mostrando um casal acomodado ao extremo para causar estranheza. Eles próprios são estranhos – vivem sem entusiasmo, tomam decisões sem pensar, se precipitam justamente quando a causa pede calma. Fazer a diferença no mundo particular de cada um pede calma e determinação. Mas Sophie e Jason não sabem o que querem: se dançam, ou se compram árvores para salvar o planeta; se fazem o tempo parar para não se perder ou não perder o outro, ou se correm para os braços do primeiro que abrir as portas. Interessante o retrato da relação que não se sustenta, que não se relaciona, que vive no imaginário irreal, na espera vazia. Apenas vive, cada um no seu mundo virtual, sem comunicar-se realmente, sem compartilhar sonhos, sem ambicionar construir.

O Futuro vale ser visto, mesmo porque tem figuras de linguagem e metáforas extremamente profundas, que chegam a incomodar. A da solidão interior, do vazio, da falta de auto-conhecimento, da falta de perspectiva, da falta de garra e vontade – motores fundamentais para uma vida ser vivida. Metáfora dos tempos atuais, em que o medo paralisa, em que o rigor das convenções e expectativas engessa iniciativas e quebra de paradigmas? Também acho que sim. Fato é que, ao sair dessa sessão da Mostra, notei que as pessoas perguntavam aos amigos se tinham entendido bem tal e tal parte do filme. Pelo que senti, era isso que Miranda July queria despertar: o desconforto, a incerteza diante de um comportamento, para gerar reflexão, para deixar sentir a história de acordo com o repertório de cada um.

E o gato? Bem, o gato faz parte desse contexto sempre inacabado da vida do casal, ilusório, cheio de intenções, mas nunca concluído. Difícil sair da zona de conforto…

 

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