O ARTISTA – The Artist

Cartaz do filme O ARTISTA – The Artist

Opinião

Vivemos um tempo de descarte e parece que as coisas são feitas realmente para durar pouco. Descartamos eletrônicos de uma maneira assustadora, embalagens, papéis, móveis, pessoas. O produto de sucesso do momento fica obsoleto em muito pouco tempo. O mesmo acontece com pessoas famosas, que são deixadas de lado assim que surge alguém comercialmente mais interessante. E isso que faz O Artista ser tão atual, apesar da linguagem do cinema mudo e do preto e branco parecerem antigas. Ainda mais atual quando traz à tona a necessidade da tão aclamada reciclagem. Voilá, acertou em cheio!

O Artista, este musical magnífico que concorre ao Oscar em 10 categorias como melhor filme, diretor, ator, atriz coadjuvante, direção de arte, trilha sonora, fotografia, figurino, é o grande favorito. O artista do título é George Valentin, protagonizado por Jean Dujardin, que é um galã do cinema mudo no final dos anos 1920 – famoso, requisitado e rico. Até que o cinema falado surge e sua imagem já não se encaixa na nova onda. É preciso criar um outro ícone, assim como faz qualquer indústria que lança uma inovação. Quem cai no gosto das pessoas e de Hollywood é a atriz Peppy Miller (Bérénice Bejo), que passa de uma simples iniciante à grande vedete do cinema falado – com fama, dinheiro e prestígio. Enquanto um entra em decadência, outros sobem no pedestal. Assim é que é.

Fiquei fascinada com a beleza, delicadeza e sensibilidade de O Artista. Contar essa história na tranquilidade do silêncio e ausência de cor, foi um gesto um tanto quanto ousado. Ainda mais para os dias de hoje, em que se espera sempre muita ação, som e barulho. E corajoso, porque ao invés de ser piegas nesse tema da obsolescência, de soar como lição de moral, trata o tema de uma maneira belíssima, ressaltando a necessidade de se reinventar, de se adequar aos novos tempos.

O diretor francês Michel Hazanavicius fez um filme atual, acredite. Que ainda por cima prescinde de toda aquela parafernália com que estamos acostumados. Você vai se dar conta disso quando sair do cinema. Claro que quem não gosta minimamente de filmes com linguagem europeia, mais autoral, nem de filmes de arte, vai se incomodar um pouco – já ouvi dizer que se essa moda de filme mudo pega, estamos perdidos… Ora, não se trata disso, os tempo são outros. Mas se você é daqueles que sempre quis aumentar o repertório cinematográfico mas tem preguiça de assistir a filmes mais antigos, ou não sabe por onde começar, O Artista é um começo maravilhoso. Além de ser uma homenagem ao cinema, revisita o ambiente de uma época com que poucos de nós temos intimidade, dá a oportunidade de apresentar uma nova-antiga linguagem e nos diz, sem delongas e com muita sensibilidade e classe, que se o orgulho for colocado de lado, tudo pode ser reciclado – inclusive nós mesmos. Não deixe de assistir. O Artista é um presente.

 

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