NO

Cartaz do filme NO

Opinião

“O filme No fala de um caso inédito na história”, conta o produtor do filme Daniel Marc Dreifuss, na sessão de abertura da 36a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “É o único caso de ditador que perde sua ditadura pelo voto que ele mesmo convocou”, conclui Daniel. Parece ridículo e até improvável, mas aconteceu. E era improvável no começo. Diante do regime ferrenho de Augusto Pinochet, que estava à frente do governo do país desde 1973, do temor que assolava a população civil e do progresso econômico pelo qual o Chile passava, tudo levava a crer que não se ousaria contestar. Apesar dos milhares de presos políticos, desaparecidos e mortos e de todo o panorama ditatorial que assolava a América Latina.

Fato é que a oposição resolveu se mexer, contratou o publicitário René Saavedra, representado pelo ótimo ator mexicano Gael García Bernal, que deu cara nova à linguagem que seria usada para convencer as pessoas a se manifestarem contra o status quo. Ao invés de adotar uma campanha pessimista, mostrando o drama das famílias dos desaparecidos, os conflitos entre manifestantes e polícia, Saavedra propõe como mote de campanha a alegria, o otimismo, a linguagem familiar. Sua ideia era contagiar as pessoas com a possibilidade de mudança e de liberdade de opinião. No mostra um case importante e muito interessante do poder da mídia, da sutil e fortíssima influência da linguagem publicitária na opinião das pessoas. Tira até boas risadas – em várias ocasiões, a gente consegue se sentir “o eleitor” do filme, aquele manipulado, à mercê das mentes criativas, habilidosas e manipuladoras da publicidade.

Dentre várias das felizes escolhas do diretor chileno Pablo Larraín (entre elas a presença de Gael García Bernal – veja post com outros filmes do ator e do humor no roteiro), eu destacaria a fotografia do filme. Para que o filme pudesse ser mesclado com cenas reais do episódio, o diretor optou por filmar com câmeras iguais àquelas usadas na década de 80. Portanto, com definição muito inferior aos telefones celulares que temos hoje, lembrou o produtor. O resultado é um filme com textura daquela década, com cara de realidade, de documentário – o que o torna ainda mais agradável de assistir, fugindo do padrão americano de fazer cinema. Ganha a cara de cinema independente, autoral, quase um filme de festival. Digo quase porque tenho sempre esperança de que as pessoas assistam a produções assim, diferentes. Nem que seja para aumentar o repertório. De quebra, sai ganhando também um pouco de história e boas risadas.

 

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