Opinião

“- Um homem e uma mulher flutuando na água.

– Por quê? Estão mortos?

– Não!  Estão casados há muito tempo… o que não é a mesma coisa.”

E não é mesmo. Naturalmente que os filhos ocupam grande parte dos nosso tempo, por muito tempo. Assim é – e isso é bom. Mas o filme mostra justamente o momento seguinte, quando o casal se vê sozinho no ninho que criou e tem que se reinventar.

Sem nostalgia, arrependimento ou crise conjugal. De forma inteligente e bem humorada, o filme dirigido pelo argentino Daniel Burman (também em Dois Irmãos e Memória de Quem Fica) retrata o casal Leonardo e Martha (Cecilia Roth, também em Tudo Sobre Minha Mãe) se adaptando à nova rotina, agora com tempo para cada um deles e para os dois. O que fazer com tanto tempo? Como cada um é um – coisa que também não podemos esquecer durante o período em que filhos se apropriam da nossa vida – marido e mulher reagem de forma diferente: ela sacode a poeira, procura novos e velhos amigos, volta a estudar; ele se fecha, se chateia, demora a perceber a beleza da nova fase.

Para quem gosta do cinema argentino, este vai bem na esteira daqueles filmes deliciosos de assistir! Mas lembre-se: o timing do filme é outro, mais lento, mais reflexivo…  Se estiver esperando “velocidade e ação”, é outro departamento. E digo ainda: imagino que interesse mais àqueles que já notam que os filhos estão criando asas ou àqueles cujos filhos já voaram –  por razões óbvias, os casais mais novinhos podem achar que o filme não fala com eles. Mas tudo passa tão rápido…

Enquanto conversa com um amigo, Leonardo ouve este sábio conselho. Faço minhas as suas palavras: “Há casais que demoram anos para perceber que não existe mais nada entre eles. É como guardar algo na geladeira, pensando que um dia pode precisar. Os casais acham que os filhos são a causa e consequencia de todas as crises: quando estão, é porque estão; quando se vão, é porque se foram. Mas não é assim. O casal deve despertar do marasmo em que vive, se redescobrir, buscar uma nova perspectiva. .. A solução é sofisticada, requer tempo, esforço, criatividade.”