MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR DIGITAL – Medianeras

Cartaz do filme MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR DIGITAL – Medianeras

Opinião

Quem não se lembra do esforço de procurar o Wally no meio da multidão no célebre livro Onde Está Wally? Agora, imagine que esse sujeito de camiseta listrada pode ser você mesmo, ou a sua cara-metade. Depois, transporte-se para o seu ambiente de vida. Você se encontra no meio do caos da cidade onde vive? Você consegue encontrar seu lugar ao sol, ou melhor, tema sensação de que pertence àquele lugar? Ou é como se estivesse sempre buscando algo, alguém, uma identidade dentro de você mesmo?

A arquiteta Mariana (Pilar López de Ayala, também em Lope) não se encontra, nem na descaracterizada Buenos Aires, que cresce sem planejamento e sem critério, que tem gente demais e conversa de menos, nem na sua própria casa. O programador Martin muito menos. Sofre de fobia, toma remédio para dormir, é hipocondríaco e cheio de manias. Para eles, a internet veio para conectar, mas nos torna mais solitários na desconexa, confusa e individualista Buenos Aires – paródia que pode ser transportada tranquilamente para a ainda mais caótica São Paulo, ou qualquer outra metrópole. O que Medianeras traz de original é o fato de comparar a arquitetura da cidade com o mecanismos interno das pessoas. Sem sentido, sem estilo, sem planejamento, sem rumo, sem esperança. A metáfora da procura por Wally é simplesmente fantástica. O Wally dentro de nós, nossa razão de existir; o Wally companheiro, tão difícil de encontrar – apesar das conexões, das ferramentas midiáticas, da queda de fronteiras. Vai-se longe com a internet, vai-se a lugar nenhum na própria vida.

O texto inteligente e amarrado, o clima espirituoso e sensível de Medianeras (palavra que, durante o filme, você descobre o que dizer), lembra o tom do filme 500 Dias Com Ela, em que também há a busca pelo sentido e pela ‘metade da laranja’. Fiquei encantada com o filme e pelo jeito o Festival de Gramado também – venceu como melhor longa estrangeiro, levou o prêmio do júri popular e melhor diretor para Gustavo Taretto. Merecido. Gostei demais. Só me arrependi de não ter anotado durante o filme todas as percepções de Buenos Aires feitas pelos olhos de quem não desiste de procurar o Wally e não se contenta com qualquer coisa, nem com uma cidade qualquer. Afinal, que cidade é aquela que esconde o céu com fios, que dá as costas para o próprio rio, que constrói prédios altos ao lado de baixos, estilo francês ao lado de estilo nenhum?

 

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