MANIFESTO
Opinião
Mesmo que você não saiba de onde vêm os monólogos das 13 personagens de Cate Blanchett em O Manifesto, não se acanhe. Imagino que pouca gente saiba – entre elas, eu. São manifestos famosos, sobre temas variados – sobre comunismo, vanguardas artísticas, literatura. Densos, complexos e, muitas vezes, de difícil entendimento, vão ganhando força na presença da atriz. Ela se transforma, cada vez em um pessoa diferente – mas falta tempo pra tentar entender o conteúdo e absorver algo.
Mas, de novo: não se acanhe. Não entendeu, segue adiante. O que fica é a sensação de que, nos diversos movimentos que surgiram, só surgiram porque se basearam em algo já existente. Os manifestos questionam o status quo, por exemplo, da obra de arte, pra propor algo um diferente, com base no que está sendo criticado. O que Cate faz é uma ginástica acrobática pra encampar cada um dos personagens – mas será que seus personagens entenderam tudo o que disseram?
Fiquei com a sensação de estranhamento, que me parece, inclusive, genuína. Julian Rosenfeldt, o diretor, é artista, produz vídeo-instalações e Manifesto foi pensado primeiramente para uma exposição. Faz sentido – no cinema, é mais difícil identificar. Mas tem o recurso de unir as facetas da atriz num emaranhado primoroso de atuação que, mesmo escapando muito entendimento, nos faz prestar atenção em cada palavra. Do tipo: como assim, não entendi nada? Fiquei pensando que outra atriz teria feito isso tão bem quanto Cate. Quem?
Comentários