LORE

Cartaz do filme LORE

Opinião

Um viés diferente, de um contexto bem conhecido. Um pouco da sensação que tive quando li A Trégua, do italiano Primo Levi (foi também feito um filme homônimo, baseado no livro). Levi conta a sua história a partir do momento em que os Aliados vencem a guerra, os campos de concentração já não têm soldados e os  judeus, até então encarcerados esperando a morte, se veem livres para voltar para casa. Mas que casa? Que família? Que país? A Trégua mostra essa jornada pela Europa devastada, por um passado que já não existe nem sinal.

Lore também volta para essa realidade do imediato pós-guerra, em que a paz foi declarada, mas em que ainda há muita luta a ser travada: pela vida, pela comida, pela habitação, pela restauração de algo que já não volta mais. Muito se tem dito nessas décadas sobre os horrores da Segunda Guerra. Mas o que foram os dias e meses imediatamente depois? Em Lore, os protagonistas são o inimigo. Os nazistas. A personagem Lore é filha de nazistas, que são presos após a derrocada de Hitler. É a mais velha de 5 filhos e tem que cuidar dos irmãos, o que inclui a árdua tarefa de cruzar a Alemanha totalmente destruída, encontrar comida e abrigo, cuidar de um bebê de colo, passar pelas adversidades e pelas barreiras dos Aliados, até chegar na casa dos avós.

Extremamente bem conduzido, todo esse contexto da luta pela sobrevivência já vale a pena, mesmo porque nos coloca em contato com uma realidade pouco explorada. Porém, o mais interessante do filme é a discussão ética que ele propõe. Pelo caminho, Lore encontra-se com um rapaz judeu, sem o qual ela não seria capaz de conduzir a família. Ele se dispõe a ajudá-la e ela revida com o ódio plantado pelas crenças e comportamento dos pais. Inteligente e sutil, o filme coloca toda a problemática da formação da geração que viveu a guerra, seja ela do lado que for. Na construção do preconceito e do contraponto com a tolerância. E na importância da formação e dos valores passados pela família. Pelo bem e pelo mal, eles sempre vêm à tona. Fico pensando o que deve ter sido restaurar a sociedade alemã depois de tudo o que se viveu. Fico pensando que fim Lore deu à sua conduta e à sua vida.

Indicado da Austrália ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2012, Lore é emocionante no roteiro, nas imagens e na entrega dos atores. Não seria nada sem atores integralmente envolvidos. Pareceria folhetim. Lore tem uma autenticidade ímpar, facilmente capaz de emocionar.

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