HISTÓRIAS CRUZADAS – The Help

Cartaz do filme HISTÓRIAS CRUZADAS – The Help

Opinião

A Cor Púrpura, de Steven Spielberg, é um filme excelente e ótima introdução ao tema sobre o racismo no sul dos Estados Unidos. Conta a história de Celie, no estado da Georgia no começo do século 20, e de sua condição de “negra, pobre e mulher”, como ela mesma diz no filme, que vai ter suas consequências até os dias em que Histórias Cruzadas é ambientado. Aliás, consequências que continuam presentes até os dias de hoje, o que faz deste filme uma história bastante interessante, atual, presente na cultura brasileira e que portanto pode dar muito pano pra manga nas conversas sobre preconceito, sociedade, desigualdade e sobre o pré-julgamento que fazemos das pessoas.

Não é exatamente um filme para se ver em família, do tipo “diversão e entretenimento”. Mas é sim para ver em família com os filhos e discutir, trazer para o presente. E funciona, eu testei. Em Histórias Cruzadas estamos no Mississipi nos anos 60, quando começa a luta pelos direitos humanos e trabalhistas dos negros, mas as diferenças originárias da cultura escravocrata e servil das décadas anteriores ainda alimentam o preconceito, as desigualdades sociais e o desrespeito em relação aos negros. Negras, melhor dizendo, aquelas que vivem nas casas das famílias abastadas, cuidando e criando seus filhos, empregadas assim como suas mães e avós escravas.

The Help se refere às ajudantes domésticas, que eram chamadas dessa forma. Por isso o título original, que mais uma vez ganha uma adaptação um tanto quando vazia, mas que remete às histórias que são cruzadas e contadas pela jovem jornalista Skeeter (Ema Stone, também em Amor a Toda Prova). Criada por uma empregada negra por quem nutre muito carinho e gratidão, não se conforma com o fato de ela ter sido despedida pela mãe depois de quase 30 anos de serviço. Não se conforma também com a postura de suas amigas que maltratam descaradamente as empregadas que tanto se dedicam e ajudam nas tarefas da casa e principalmente na criação de seus filhos. Apesar da resistência e do medo de represália (por se tratar de um estado com leis racistas), Skeeter consegue reunir os depoimentos de duas moças, Aibileen (Viola Davis, também em Dúvida, Comer, Amar, Rezar) e Minny (Octavia Spencer, também em O Solista) para começar a escrever o livro com essas histórias de vida.

Baseado no livro A Resposta de Kathryn Stockett, Histórias Cruzadas concorre ao Oscar de melhor filme, melhor atriz com Viola Davis (espetacular!), atriz coadjuvante com Octavia Spencer (já venceu o Globo de Ouro) e Jessica Chastain (também em A Árvore da Vida). Portanto, um elenco aclamadíssimo (tem também a ótima Sissy Spacek) escolhido pelo diretor Tate Taylor, amigo pessoal da autora. Vale a pena ver, ainda mais diante da realidade brasileira também de herança escravocrata e ainda preconceituosa.

Pode não ser um filmaço, daqueles que a gente se curva diante de todas as suas facetas; pode ser “arrumadinho” demais, ter um “estilo novela” em que todos os elementos, até os mais improváveis da produção, estão nos devidos lugares; pode não emocionar tanto quanto o tema seria capaz (embora seja capaz de roubar boas lágrimas pela identificação com o assunto); pode não ser tão cuidadoso com a realidade estética quanto o livro, como dizem por aí. Mas é um filme essencialmente sobre o comportamento humano, sobre as dificuldades de construir sociedades igualitárias, de lidar com os próprios preconceitos e de se liberar desse sentimento de superioridade que o passado deixa enraizado.

Nos cinemas: 03 de fevereiro

 

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