FERRUGEM E OSSO – De Rouille et D’os

Cartaz do filme FERRUGEM E OSSO – De Rouille et D’os

Opinião

Marion Cotillard é um dos expoentes do cinema francês. Competente, intensa, marcante, veste seus personagens de uma maneira apaixonante. Ferrugem e Osso é um filme que escancara tantos sentimentos ao mesmo tempo, naquilo que o ser humano tem de mais nobre, podre, digno e indigno. Não diria, como vi escrito por aí, que se trata de um filme de amor, porque isso logo dá margem a romance. Não. Trata-se fundamentalmente de um filme sobre a capacidade de se reinventar diante das dificuldades da vida, de se reconciliar consigo mesmo. Dito isso, pode ser sim um filme de amor. Mas amor pela própria vida.

Só assim é possível conviver e lidar com a tragédia de perder as duas pernas. Stéphanie (Marion Cotillard, também em Até a Eternidade, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, Contágio, Piaf – Um Hino ao Amor, Meia-Noite em Paris) vive sua vida sem muito entusiasmo e trabalha como adestradora de orcas em um aquário da cidade. Em uma das apresentações, ela sofre um acidente, perde as duas pernas e sua vida muda radicalmente. Paralelamente, Alain (Matthias Schoenaerts) está desempregado, precisa cuidar do filho e para isso muda-se para a casa da irmã, que mora na mesma cidade que Stéphanie.

As duas realidades se cruzam, sem que para isso o diretor Jacques Audiard (também de O Profeta) tivesse que criar um tema romântico. Pelo contrário. Cria um clima seco, quase pragmático, em que a dor da perda e do isolamento de Stéphanie e a frieza de Alain não se compadecem um do outro. Não há sentimento de compaixão, pena, companheirismo. Apenas uma troca de conveniências, dentro do que convém a cada um deles.

Além da crueza do tema, essa relação fria faz com que Ferrugem e Osso não seja um filme óbvio, muito menos fácil, e nem por um minuto doce. Duro de assistir, mas de uma autencidade impressionante sobre a essência humana. Dor e solidão não se confundem, mas o sofrimento faz trazer à tona a vontade de viver – e de viver melhor. A beleza está na descoberta dessa possibilidade, apesar dos pesares e limitações, sempre inúmeras. Uma das atuações mais completas de Marion Cotillard, que emociona, impressiona e justifica sua posição de destaque na cena mundial cinematográfica.

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