DÉGRADÉ

Cartaz do filme DÉGRADÉ

Opinião

Lembrei do Caramelo, também um recorte do feminino dentro de um cabelereiro, pelo olhar de Nadine Labaki. Só que o libanês tem humor e é divertido, traz um panorama desse microcosmos e tudo que acontece lá dentro, como metáfora das relações entre as mulheres. Em Dégradé não é bem assim. Rola um clima tenso, mulheres estressadas e preocupadas, tudo meio que por um fio, em pela Faixa de Gaza, na Palestina.

Aqui também é um microcosmos – só que das pressões de quem vive sitiado e em constante alerta. A proprietário é russa, precisa pentear e maquiar uma noiva, lidar com o ego de uma senhora que quer deixar o marido e acha o advogado um gato (Hiam Abbass, também em Lemon Tree, Uma Garrafa no Mar de Gaza, Free Zone, A Fonte das Mulheres, O Visitante, A Noiva Síria), da muçulmana com véu que fica hororrizada com a linguagem e os assuntos de sua amiga, da grávida que está prestes a dar a luz, da assistente que brigou com o namorado, que é autoritário, violento e machista, mas que ela teme em não largar.

Quando a confusão e a guerra acontece lá fora por questões comuns nesse tipo de território conflitante, a guerra se instala também lá dentro. Cada mulher com a sua; cada uma com as suas questões, dores, frustrações, mentiras, necessidade de encobrir a dura realidade dos relacionamentos fracassados e da vida – que é, realmente, muito dura.

Dégradé tem essa sutileza do nome que me remete às várias camadas da vida – da superficial realidade compartilhada no cabelereiro, onde é fácil mostrar a vida segue sob controle; da camada mais interna que aparece quando a situação se mostra inesperada; do desespero que explode quando a vida sai do controle. Guerra dentro de cada uma, entre elas e entre eles lá fora. Tudo um conflito só, no fim das contas. Intenso, claustrofóbico, humano e feminino. Naquilo que as mulheres têm de mais aguçado que é a sensibilidade.

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