CHE – O ARGENTINO / Che – The Argentine

Cartaz do filme CHE – O ARGENTINO / Che – The Argentine

Opinião

 

“Temos que dizer aqui o que é uma verdade conhecida. Temos dito isso em todo o mundo. Fuzilamentos? Sim, fuzilamos. Fuzilamos e continuaremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte. Contra a imposição do imperialismo norte-americano.”

– Che, em discurso na ONU em 1964

As notícias da semana passada sobre a greve de fome do jornalista cubano, estampadas em toda a mídia, me deixaram intrigada. Ainda não tinha assistido a Che – O Argentino. Achei que estava mais do que na hora, afinal o mito Che é muito forte e as manchetes atuais mostram que a dita ‘revolução cubana’ ainda acontecesse bem debaixo do nosso nariz.

Já no poder como braço direito de Fidel Castro, Ernesto Che Guevara dá uma entrevista a uma jornalista norte-americana em Havana. Ela pergunta se a mensagem da Revolução Cubana não perderia a sua força caso os esforços recentes dos Estados Unidos para ajudar os povos latino-americanos tivessem êxito, as classes dirigentes aceitassem reformas agrária e fiscal, o nível de vida melhorasse. Era 1964 e Cuba já sofria com o bloqueio comercial imposto pelos Estados Unidos, já fora expulsa da OEA e já se alinhara com a extinta União Soviética. Traçava um destino cada vez mais longe da democracia e da liberdade de expressão. A pergunta acima (parte da entrevista está no filme) vai direto ao ponto: o apelo da turma esquerdista de Fidel foi o bem-estar do povo, o regime de igualdade, o emocional. Mas era só apelo, e não realmente o seu interesse. A revolução cubana teria perdido a sua áurea mágica se o povo não estivesse em tamanha penúria – que persiste. O que vemos hoje é um verdadeiro desastre humanitário, econômico, educacional e moral.

O filme Che – O Argentino é a primeira parte da produção cinematográfica sobre ele (a sequência é Che – A Guerrilha) e mostra um comandante já diferente daquele futuro médico idealista de Diários de Motocicleta. Mostra um comandante arrogante, irônico, poderoso e de boa lábia. A caracterização de Benício del Toro é realmente muito boa – levou o prêmio de melhor ator  em Cannes pelo papel. No filme são intercaladas as cenas do planejamento do golpe em 1956, da trajetória das colunas de guerrilheiros até Havana para depor Fulgencio Batista e tomar o poder em 1959 e do seu discurso na ONU, em 1964. Nele, Che teoriza sobre os “explorados e pobres da América Latina” que decidiram “escrever a história com as próprias mãos” e que lutam contra o “imperialismo”. Interesse da cúpula somente, a mesma há 50 anos.

Está nos jornais o resultado de todo esse discurso vazio e por si só imperialista: jornalistas presos por não poderem se expressar, internet controlada (veja site e o livro da blogueira Yoani Sánchez no post De Cuba, com carinho), greves de fome para chamar a atenção do mundo, sistemas educacional, habitacional e de saúde em colapso. E os pobres da América Latina continuam pobres. E seus líderes, inclusive o nosso, pobres de espírito.

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