BLUE JASMINE

Cartaz do filme BLUE JASMINE

Opinião

Jasmine não perde a pose por nada neste mundo. Nem quando o marido milionário (Alec Baldwin) é desmascarado e vai preso por todas as suas falcatruas. Nem quando fica sem um tostão, mas insiste em viajar de primeira classe. Nem quando não tem onde cair morta e a única opção é pedir abrigo na casa da irmã brega, que faz o irritante jogo da Poliana o dia inteiro (Sally Hawkins). Nem quando tenta se arranjar com outro marido rico, mas as mentiras põe tudo a perder.

Sempre elegante, e quase sempre cheia de si. Não se redime, não cansa de humilhar as pessoas, nem acha que deva trabalhar como todos os mortais para ganhar a vida. Leva muita rasteira de uma vez só, mas aposto como Jasmine, brilhantemente interpretada por Cate Blanchett, vai achar uma maneira de “se dar bem na vida de novo”. É do tipo incansável.

Por esse personagem complexo, atemporal, retrato dessa sociedade consumista e materialista ao extremo, Woody Allen é espetacular. Assim como também o é em Meia-Noite em Paris, Vicky Cristina Barcelona, Match Point – só para citar os mais recentes. Mas em Blue Jasmine ele é ácido na medida certa: questiona os valores da alta sociedade, a coloca cara a cara com a classe média cafona, que se contenta com tudo aquilo que a outra despreza, provocando um atrito sem solução. Aliás, o filme também é bom nisso: não tem solução pra nada, apenas apresenta um retrato dessa sociedade doente. Que me fez rir em alguns momentos. Pra não chorar.

Toca na questão familiar, mas não é o principal. O que fica aqui é a construção dessa Jasmine, elegante e cruel, irônica e amarga. Ela se encaixa bem no perfil do novo rico besta: aquele que não sabe lidar com o dinheiro, que o coloca na prateleira errada da vida, que acredita, piamente, que é melhor que os outros por causa de sua conta bancária. E que, apesar de todos os tropeços, mentiras e esnobadas, não perde a pose, embora vazia e solitária, por nada nesse mundo.

Fiquei pensando por que razão Woody Allen premia a personagem de Cate Blanchett com o “blue” no nome. Uma pérola. Seriam por seus olhos azuis? Ou seria uma metáfora do “feeling blue” americano? Definitivamente, fico com o simbolismo dos olhos. Porque Jasmine sente raiva e repulsa, quer vingança, acredita ter sido injustiçada, continua achando que tem razão. Mas não sente a melancolia, nem a tristeza, que o “blue” sugere. De jeito nenhum.

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