BEM-VINDO – Welcome

Cartaz do filme BEM-VINDO – Welcome
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Opinião

“Ele andou 400 km para encontrá-la, agora quer atravessar o Canal da Mancha… Quando você foi embora, nem a rua eu atravessei para trazer você de volta.”

Bem-Vindo é um daqueles filmes que faz você parar para pensar em muitas questões ao mesmo tempo. Apesar de o fio condutor ser a imigração ilegal numa França atolada por esse problema – nada mais é do que o retrato da Europa como um todo – temos aqui um conflito entre a determinação e a apatia, o coletivo e o individual, a luta e a entrega. Um filme humano, contado com maestria.

Conta a história de Bilal, um garoto do Curdistão, que foge caminhando do Iraque, onde já é descriminado por natureza, e chega em Calais, na França, porto de partida os clandestinos que querem entrar na Inglaterra. Seu objetivo é simples: chegar em Londres para encontrar a mulher amada. Para tanto, está disposto a ir escondido em um dos diversos caminhões de carga que cruzam o Canal da Mancha e pagar caro por isso. Se não conseguir, pretende ir a nado. Simples assim. Sonho de garoto de 17 anos, um misto de idealismo e descrença.

Sua história se cruza com a do apático professor de natação Simon (Vincent Lindon, também em Mademoiselle Chambon e Tudo Por Ela), que vive um momento difícil em sua esposa pede o divórcio. A cena em que se encontram no supermercado mostra sua decepção com a postura do ex-marido em relação aos imigrantes – justo ela, defensora dos nada-bem-vindos. Para Simon, ele não tem nada a ver com isso. Desencanto com o casamento desfeito, um misto de desilusão e indiferença perante a vida.

As vidas de Bilal e Simon se cruzam quando o curdo resolve aprender a nadar para enfrentar as frias águas do canal. Ressabiado, Simon aceita dar as aulas e vai além acolhendo o garoto em sua casa. Num primeiro momento, o objetivo é impressionar a ex-mulher e reconquistá-la. Mas o olhar humanista e realista de Lioret torna o enredo ainda mais envolvente, enxuto, intenso.

A relação que nasce remete ao belo O Visitante, em que um nativo também apático abre uma oportunidade dentro de si para o outro, para o diferente, sem questionamentos. Simplesmente o faz. É como se despir dos conceitos pré-concebidos, para que o final aponte uma real mudança interna.

Pesquisando sobre o filme, me deparei com a notícia de que em setembro a polícia francesa havia desmantelado o acampamento de imigrantes em Calais – como esse, retratado no filme. Trata-se de um filme denúncia, em que o político e o social se mesclam, sem que possam ser desconectados. É a realidade que filmes como O Silêncio de Lorna e Jean Charles também querem mostrar.

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