AZUL É A COR MAIS QUENTE – La Vie d’Adèle

Cartaz do filme AZUL É A COR MAIS QUENTE – La Vie d’Adèle

Opinião

Emma, do cabelo azul, abre o mundo então limitado de Adèle, a garota de 15 anos que não viu graça no seu primeiro namorado. Emma já é estudante de artes plásticas (Léa Seydoux, também em Meia-Noite em ParisAdeus, Minha Rainha, Grand Central), portanto uma mulher independente, que já assumiu sua homossexualidade. Por sua vez, Adèle sofre preconceito na escola, recusa os rótulos, porque que não sabe ainda qual é a sua opção sexual, nem sabe se quer assumir uma. Livremente baseado na HQ homônima escrita por Julie Maroh, o filme não cai na estereotipagem do homossexual no cinema e passa a enfocar o relacionamento das duas personagens centrais ao longo de vários anos, desde o encantamento inicial até as dificuldades inerentes a qualquer relacionamento.

Azul é a Cor Mais Quente não economiza na carga erótica, incluindo uma longa sequência de sexo explícito entre as amantes. Consideradas pornográficas, as cenas de sexo causaram furor e polêmica no último Festival de Cannes, de onde o filme saiu com a Palma de Ouro. Numa decisão inédita, o prêmio foi dividido entre o diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche (também de O Segredo do GrãoVênus Negra) e, por suas atuações corajosas, Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux. Pela primeira vez na história do festival, duas atrizes levaram a Palma e, ao lado de Jane Campion (O Piano), são as únicas mulheres donas de tal honraria.

Em recente coletiva de imprensa no Brasil, o diretor defendeu-se das críticas: “Filmei uma história de amor e o desejo faz parte da atração. A exposição dos corpos tem a ver com a minha escrita cinematográfica, com a minha forma de expressar aquilo que não é possível com as palavras”.  Definitivamente impactantes, as cenas de sexo do filme desconcertam, incomodam e ainda vão dividir muitas opiniões, é verdade. Mas exprimem a entrega quase espiritual de Adèle à sua relação com Emma, e fazem parte da proposta do cinema sensorial de Kechiche, que filma a maioria das cenas com a câmera muito próxima, quase colada ao corpo e rosto das atrizes. Em três horas de duração, esse estilo naturalista do chamado “cinema-verdade” pode cansar quem não estiver acostumado aos filmes de autor comumente realizados na Europa.

Azul é a Cor Mais Quente vai dar o que falar, pena que pelos motivos errados. O que fica é um retrato visceral de uma jovem com seus desejos, dilemas e frustrações, lutando para encontrar-se por meio da sexualidade. Independente de qualquer definição de gênero.

Por Eduardo Lucena

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