AS CANÇÕES

Cartaz do filme AS CANÇÕES

Opinião

 

“Eu conheço os passos dessa estrada,

sei que não vai dar em nada,

seu segredos sei de cor…”

– Retrato em Branco e Preto, Tom Jobim e Chico Buarque

 

Esse é o verso da linda canção de Chico e Tom Jobim que mais marcou a vida de Silvia. Descreve a estrada do seu casamento, que embora tenha sido longo, não foi amor duradouro. Ela sabia que não seria, que não levaria a lugar nenhum. Assim como ela, outras tantas pessoas, homens e mulheres, cantam suas vidas, contam episódios importantes e marcantes com a lembrança de uma música de fundo, de compositores famosos ou nem tanto, de autoria própria. Invariavelmente são amores. Vividos – às vezes não o suficiente – brigados, reconciliados, traídos, companheiros, solitários, amor da vida, do marido, da mulher, da amante, da família ou da sua ausência, do pai.

Quando terminam os 90 minutos de depoimento e música, num único cenário preto, na frente do palco de um teatro, sem qualquer alteração, dinamismo ou disfarce, fica absolutamente claro que esse tipo de produção e ousadia não são, definitivamente, para qualquer um. Há algo singular na sensibilidade de Coutinho de escolher os personagens, de garimpar histórias de vida e, neste caso específico, pessoas que sabem cantar as canções da sua vida. Consegue fazer rir e emocionar. São histórias de gente simples, contos cotidianos, cheios de emoção. A gente percebe que as pessoas que se dispuseram a participar do projeto abrem seu coração de uma maneira impar. Já tinha me impressionado com Jogo de Cena, de Coutinho, em que mulheres famosas contam histórias de mulheres comuns – assim como em Amor?, de João Jardim, em que a vida se mescla com a interpretação. Mas achei As Canções ainda mais tocante, verdadeiro, genuíno.

Preciso rever alguns outros retratos (sim, são retratos que Eduardo Coutinho faz de personagens reais) que ficaram pra trás na memória, mas que me parecem agora essenciais para completar essa sensação de “sensibilidade singela” que o documentário despertou em mim. Edifício Master (de 2002) e Moscou, que ainda não vi (de 2009) serão os próximos. As Canções é espetacular – justamente por não ter nada demais.

 

 

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