AQUI É O MEU LUGAR – This Must Be The Place

Cartaz do filme AQUI É O MEU LUGAR – This Must Be The Place

Opinião

“Tem alguma coisa estranha, mas não sei o que é.” Concordo com Chayenne. Tem alguma coisa estranha. À medida que Aqui é o Meu Lugar vai ganhando corpo, o que se percebe é que o estranho não é o ex-roqueiro Chayenne em seu visual noir, maquiado e efeminado. Isso é a fantasia que ele resolve incorporar para esconder a estranheza que sente de si próprio, essa coisa mal resolvida que tem dentre dele que não consegue resolver. Só vai ser vencida quando ele toma a decisão de colocar o pé na estrada e acertar as contas com o passado.

Mas justiça seja feita. Chayenne só é esse personagem bizarro, de olhar perdido e distante, fala mansa e arrastada, o inexpressivo que beira o indiferente, o surreal, o absolutamente fora da realidade, porque está na pele de Sean Penn. Talentoso e competente, veste a camisa e tudo mais proposto pelo diretor italiano Paolo Sorrentino. Sai da seara de Hollywood e aceita ser este personagem, no mínimo, diferente. E não é só o personagem, o olhar da direção é outro, tem a preocupação com nuances, detalhes, diálogos precisos que enriquecem ainda mais a estranheza do ex-roqueiro americano, que ganhou muito dinheiro, abandonou a carreira por causa de um acidente traumático, é casado com uma fiel e firme companheira (um contraste e tanto com sua figura), mora recluso em uma casa enorme em Dublin e vai construindo uma realidade ao mesmo tempo apática e instigante, que só me fez ficar ainda mais curiosa para saber o desfecho.

Claro, Sean Penn (também em Milk – A Voz da Igualdade, Sobre Meninos e Lobos) não dá ponto sem nó. De apático só a fala e o olhar. Porque as palavras são certeiras. Ótimas tiradas. Até quando a rotina se quebra e Chayenne precisa voltar para os EUA para o velório do pai, com quem não falava há 30 anos. Ex-prisioneiro do campo de concentração no Holocausto, seu pai passou anos em busca do nazista que o torturou. Chayenne sente-se em dívida, assume a vingança do pai e de uma maneira muito particular entra na segunda metade do filme construindo um road movie e mostrando a que veio. Não só para nós, mas para ele também.

E essa descoberta, esse desfecho, suas escolhas e o olhar elaborado e nada óbvio do Sorrentino fazem com que Chayenne encontre realmente seu lugar ao sol. É isso mesmo, Aqui é o meu Lugar não é óbvio, nem o enredo, nem o personagem, nem a narrativa em si. No mínimo muito interessante; se for para ir além, rende ótimas conversas e reflexões. Com direito à palinha de David Byrne, do Talking Heads. Muito bom!

Nos cinemas: 27 de julho

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