AMAZÔNIA

Cartaz do filme AMAZÔNIA
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Opinião

Curiosamente, na semana em que Amazônia foi exibida à imprensa, ouvi no rádio uma entrevista sobre a importância dos “rios voadores”. O conceito me chamou a atenção: são “rios” de umidade que se formam com a evaporação das águas da bacia amazônica que, levados pelos ventos e barrados pelos Andes, conseguem chegar ao Centro Oeste, Sudeste e Sul do país, causando as tão esperadas chuvas de verão. Com o desmatamento da floresta, obviamente chove menos, os “rios voadores” ficam mais pobres e nós passamos a ter verões como o deste ano: seco.

A coprodução franco brasileira Amazônia não tem esse tom didático. Não é um documentário sobre a seríssima questão ambiental. Mas o conceito ficou marcado, e a realidade nua e crua, sentida na pele. Quando o filme lúdico e divertido do diretor francês Thierry Ragobert, especializado em filmagens com viés ecológico, foi apresentado aos jornalistas, caiu a ficha de que a ciência sozinha não vai resolver o problema. O estrago já está feito. Agora nos resta educar, de maneira simpática e sustentável, sem violência ou acusação, na linguagem adequada, as gerações que podem fazer a diferença.

Projeto longo e cuidadoso, Amazônia levou três anos para ser realizado e contou com a consultoria de diversos especialistas em meio ambiente, já que foi filmado inteiramente com animais nativos da floresta. Sim, não são adestrados, não são fruto da animação digital, não há cenário montado. É tudo de verdade. Exibido em vários países, aqui no Brasil o macaco-prego Castanha, protagonista que vive no Rio, é vendido para o circo e vai parar na Amazônia por acaso, ganha a voz do ator e humorista Lúcio Mauro Filho. Nos outros países, os produtores optaram pena narração ou fundo musical. “Tomamos a decisão de dublar justamente para criar uma identidade com o público brasileiro, usar uma linguagem coloquial e deixar a mensagem clara de que é preciso haver diálogo também com a natureza”, diz Lúcio, enquanto se diverte ao falar do Castanha. De fato, o texto escrito por José Roberto Torero é ótimo e muito natural, fala com crianças, jovens e adultos e nos ajuda a entender que a tal seca que enfrentamos está diretamente ligada ao desmatamento e descaso com a floresta. Humaniza o personagem, porque ele conversa com ele mesmo e fala dos sentimentos humanos, mas traz para perto do espectador todo o seu comportamento natural, sem truques de filmagem.

E dá certo. Luiz Bolognesi escreve o roteiro (também da linda animação Uma História de Amor e Fúria), o fotógrafo Araquém Alcântra dá consultoria sobre onde encontrar os animais, já que fotografa a região há décadas, e toda a equipe se preparou para ter paciência. “Tivemos que esperar vários dias para avistar a onça pintada que aparece no filme”, diz o produtor Fabiano Gullane. “O desafio foi adaptar-se ao ritmo da floresta, observar o comportamento dos animais no seu habitat natural, sem qualquer intervenção humana.”

Um desafio e tanto. Comentei na entrevista sobre a semelhança de roteiro com a animação Rio 2 – afinal, a arara azul Blu também é domesticada, também carrega um adereço humano – a pochete – também chega na Amazônia e tem que sobreviver e enfrentar outros da sua espécie. O macaco-prego Castanha leva a marca da civilização na sua coleira vermelha e passa por situação semelhante. Seria uma espelho da outra? Concordo com Bolognesi que não – foi só uma provocação da minha parte. Cada filme tem seu encanto. O que vale dizer aqui é que a Amazônia que vemos em Rio 2 é fabricada, animada, digitalizada e um pano de fundo da aventura das araras. Aqui, a Amazônia é a grande protagonista. Castanha só faz o elo entre a natureza exuberante que ainda temos, e a geração que ainda pode mudar a realidade. E o cinema funciona, mais uma vez, como veículo de informação e entretenimento.

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