A RAINHA – The Queen

Cartaz do filme A RAINHA – The Queen

Opinião

Para quem reina desde 1953, não faltam episódios, dramas, guerras, decisões através dos quais se possa fazer um balanço do reinado ou descrever a realeza. Ter escolhido a súbita morte da princesa Diana confere ao filme enorme sensibilidade e, certamente, um olhar diferenciado. Uma decisão política ou uma aliança econômica seriam capazes de colocar a rainha Elizabeth no patamar figurativo que hoje ela já ocupa. Mas a escolha da morte de Diana como foco central de A Rainha foi capaz de dar ao filme uma dimensão profunda do lado humano, dos bastidores do Palácio de Buckingham, das relações que permeiam a vida e os sentimentos de sua alteza, a austera rainha Elizabeth 2ª.

Diana, como se sabe, já não era parte integrante da família real quando morreu em 1997 – embora fosse mãe do futuro rei. Também se sabe da dificuldade entre a rainha e a princesa de lidar com as escolhas pessoais, amorosas, pessoais de cada uma e ainda administrar o olhar atento, tendencioso, emotivo do mundo todo, separar o público do privado. Retratar o momento da morte de Diana e o que se seguiu naquela semana fatídica é como dissecar o que sentiu e pensou a rainha enquanto mãe, avó, sogra, família real, referência mundial. É retratada como sendo uma mulher firme, independente, consciente de suas responsabilidades desde que assumiu o trono ainda muito jovem, mas descontente com os julgamentos, com o fato de se sentir preterida em relação à Diana, a “princesa do povo”. É retratada como uma mulher que tem a consciência do dever de aconselhar, de representar um país coeso e unido, de manter a privacidade, os dogmas e tradições, mas que sabe avaliar o risco de não ser amada por seu povo.

Politicamente, o momento é curioso. Um pouco antes da morte de Diana em Paris, é eleito primeiro-ministro o reformista Tony Blair, que quer modernizar o país não só na esfera econômica, mas também política. A maneira como lida e contesta a tradição e o protocolo é algo inacreditável e até engraçado. Visualmente, é delicioso passear pelos aposentos reais. A Europa está cheia deles, mas me custa certo esforço ambientá-los no século 21, pensar a realeza hoje, com o luxo e as formalidades que, de tão sedimentadas, passam a ser incontestáveis. Vale o passeio pelo luxuoso palácio de Buckingham (e pela residência de inverno na Escócia, o Balmoral), pelo mais inglês dos ambientes ingleses, com direito ao indispensável chá da tarde.

Após a morte de Diana, aconselhada por Blair e cobrada pelo povo, a rainha fez, após o tão criticado silêncio, um pronunciamento. Tive a curiosidade de assistir ao vídeo da verdadeira Elizabeth falando em rede nacional. A interpretação de Helen Mirren é perfeita – foi premiadíssima pelo papel, inclusive com o Oscar de melhor atriz. Se você se lembra onde estava no momento em que recebeu a notícia da morte de Diana, vai se lembrar da comoção que foi. É no mínimo curioso se transportar para dentro do palácio e imaginar o que acontecia por lá naquele momento. É, sem dúvida, uma viagem imperdível pelos bastidores da realeza inglesa.

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