A GANHA-PÃO – The Breadwinner

Cartaz do filme A GANHA-PÃO – The Breadwinner

Opinião

Por Suzana Vidigal, especial para a revista Vida Simples

Parvana mora em Kabul, é filha de um professor e de uma escritora, e adora ouvir histórias. Tem 11 anos, sabe ler e escrever – diferentemente da maioria da população –, mas já não pode mais ir à escola. O enredo da animação A Ganha-Pão volta para 2001, quando o Talibã assume o poder no Afeganistão e tira das mulheres o direito de andar na rua sem um homem da família, de fazer compras, de estudar, de mostrar o rosto, de existir. A elas, cabe somente procriar e obedecer.

Mas Parvana faz diferente. Quando seus pais são proibidos de exercer a profissão, sustentar a família passa a ser um sufoco. O pai é preso, o irmão more ao pisar numa mina, e a corajosa Parvana percebe que a saída é se passar por menino pra tentar ganhar um dinheiro e comprar comida.

Indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro em 2018 e premiada em vários festivais mundo a fora, esta preciosa animação, da irlandesa Nora Twomey, fala essencialmente de coragem, mesmo quando as chances de atingir o objetivo são ínfimas.

Impecável na narrativa profunda, vale ver em família – inclusive porque os diálogos entre Parvana e os pais são lúcidos e maduros. Mas não é para crianças pequenas. Traz a beleza das cores do deserto nos diversos tons de ocre e areia, pincelados por cores fortes do véu, dos olhos, dos detalhes; traz o traço fora dos padrões das animações mais populares, embelezando ainda mais sua forma e conteúdo; mas traz também a dor intensa da violência física e moral.

Em tempos de Malala e Greta Thunberg, A Ganha-Pão cai como uma luva nesse perfil arrojado das jovens meninas que se apropriam daquilo em que acreditam, enchem-se de coragem e botam a boca no mundo. Literalmente, como diz, inclusive, Parvana no desfecho: “Levante suas palavras, não sua voz. É a chuva que faz as flores crescerem, não o trovão”.

 

 

 

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