A FEBRE DO RATO

Cartaz do filme A FEBRE DO RATO
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Opinião

A febre do rato qualquer um pega. É como se chama uma situação fora do controle em Pernambuco. Assim como foi o surto de leptospirose há algumas décadas, algo fora de controle. Assim é o universo de Zizo, esse irreverente, inusitado, inconformado, ousado e anarquista dono de um tablóide popular, feito com sua poesia, sua mais nobre forma de expressão.

Nobre e maluca. Faz poesia em meio à anarquia da sociedade em que vive. Um Recife da periferia, da pobreza, do rio morto, do mangue sem caranguejo, das casas em palafitas sem saneamento. Anarquia do sexo, da droga, do faço-o-que-bem-entendo. E muita poesia. Enquanto Zizo (Irandhir Santos, também em Besouro, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, Tropa de Elite 2, Quincas Berro D’Água) protesta em prosa, poesia e voz, seu amigo (Matheus Nachtergaele) gosta daquilo que não entende. Nessa Recife que é como um inferninho – uma terra de vale tudo, regada a muita cerveja, maconha, merengue e sexo, muito sexo.

Até que essa ordem desordeira é perturbada pela jovem Eneida (Nanda Costa), que se encanta com Zizo, mas não se rende aos seus pedidos por sexo. É ela que perturba a estável instabilidade desse apaixonado pela vida, que o diretor Cláudio Assis faz questão de construir  e mostrar nu e cru, sem máscaras. Deve ser como mostrar a vida como ela é. Nua e crua, sem roupa (literalmente), sem hipocrisia, sem ordem – ou falsa ordem, sem conformismo, sem papas na língua. De forma direta, sem rodeios.

Por essas e outras, A Febre do Rato não é para qualquer um. Pode incomodar, assim como incomoda a anarquia dos personagens, o olhar de não-estou-nem-aí-com-nada. Proposital, claro, a nudez toda, as provocações, as exibições. Em entrevista durante o Festival de Paulínia em 2011, quando o filme foi o vencedor dos prêmios principais, Cláudio Assis ataca a hipocrisia da sociedade de se incomodar com a nudez do seu cinema, sendo que aceita a robalheira, a nudez exposta na televisão todos os dias, a falta de ética e moral. Aceita, sem ressalvas. E fala bravo, incomodado, de forma contundente.

O que não incomoda e é, sem sombra de dúvida, o mais bonito do filme, é a fotografia. Todo rodado em preto e branco, A Febre do Rato consegue construir uma harmonia impressionante entre a fotografia e a poesia de Zizo. Apazigua o caos, a falta de ordem, o amor não correspondido, a linguagem chula e grosseira, a violenta repressão dos sentimentos. Foto e texto tem um poder de expressão sem igual.

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