A CRIANÇA DA MEIA-NOITE – La Permission de Minuit

Cartaz do filme A CRIANÇA DA MEIA-NOITE – La Permission de Minuit
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Opinião

A criança da meia-noite é aquela que não suporta a luz natural. Por causa de uma deficiência genética chamada xeroderma pigmentoso, o XP, não podem ser expostos ao sol – os raios ultravioletas geram lesões na pele que via de regra evoluem para cânceres e uma consequente expectativa de vida mais curta. Essa doença rara e grave faz com que as crianças vivam como astronautas e sejam ‘noturnas’. Vestem roupas especiais, desenvolvidas pela NASA, que cobrem seu corpo todo, inclusive a cabeça. Além de estranheza, isso gera dificuldade de sociabilidade e aceitação – principalmente tendo em vista a fase já difícil da adolescência.

Romain (Quentin Challal) é esse garoto de 13 anos – que faz o papel muito bem, com intensidade e competência. Qualquer lesão é motivo de estresse, já que é preciso evitar, a todo custo, o aparecimento de um câncer. As cirurgias são iminentes e obviamente o desgaste, angústia e medo regem a vida desses doentes. O apoio emocional e familiar se são peças chave. No caso de Romain, a ausência do pai, que abandonou a família, faz com que seu médico David (Vincent Lindon, também em Mademoiselle Chambon, Bem-Vindo, Tudo Por Ela) seja o ponto de referência, o amigo, conselheiro na descoberta da sexualidade, o grande apoio. Mas David é transferido de cidade e é aí que se instala o problema.

Claro que viver evitando a luz do dia, conviver com a fragilidade e morte de outros pacientes e com o fato de a doença ser incurável já é drama suficiente – ainda mais considerando que Romain é um adolescente em pleno exercício da sua contestação e agressividade, da sua transição para a fase adulta. Para evitar a exposição, os pacientes têm que usar roupas parecidas com as de um apicultor – o que causa constrangimento, afastamento e  absoluta frustração. Mas o filme propõe outro drama, que é o da separação de dois amigos, o medo de enfrentar o mundo sem o apoio costumeiro, o medo de não suportar a perda. Todo o caminho que qualquer perda percorre, passando pela raiva, angústia, indiferença até que se chegue à compreensão é mostrado na relação entre médico e paciente, e entre David e a médica que vai substitui-lo, Carlotta (Emmanuelle Devos, também em Coco Antes de Chanel, Por Que Você Está Chorando?, De Tanto Bater Meu Coração Parou).

A Criança da Meia-Noite é um rito de passagem para a mudança, para a morte, para a vida a cada esperança, a cada cirurgia bem sucedida, a cada dia de vida conquistado. Sensível e singelo, traz para a tela um pouco da vivência daqueles que convivem com o diferente e lutam para serem como os outros.

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