A CONQUISTA DA HONRA – Flags of our Fathers

Cartaz do filme A CONQUISTA DA HONRA – Flags of our Fathers

Opinião

A Conquista da Honra seria só mais um filme de guerra se não fosse a sua cara-metade, Cartas de Iwo Jima, já no CINE GARIMPO. Tudo na vida tem pelo menos dois pontos de vista. O que a direção de Clint Eastwood e produção de Spielberg fizeram foram dois filmes absolutamente sobrepostos, complementares e caricatos da dualidade do ser humano e da sua capacidade de enxergar aquilo que lhe convém, de contar um conto e aumentar um ponto. Principalmente quando desse conto dependem milhares de vidas e o destino de diversas nações.

Diferente de Cartas de Iwo Jima, que enfoca a guerra vista pelos japoneses, entrincheirados e escondidos na imensa rede de túneis cavados nas montanhas à espera do ataque americano à ilha no Pacífico em 1945, A Conquista da Honra é o olhar americano. Mostra a sua imensa frota e o poderoso contingente sofrendo baixas pelos quase 40 dias de batalha, num momento crucial da Segunda Guerra em que os Estados Unidos precisavam de uma vitória rápida e certeira. Foi daí que a foto dos seis soldados hasteando a bandeira americana no topo do monte Suribachi ficou famosa. Foi da necessidade da construção de heróis de guerra que a foto de Joe Rosenthal (abaixo), da Associated Press, rodou o mundo e fabricou verdadeiros salvadores da pátria para sensibilizar a população da necessidade de mais fundos para vencer a guerra.

O filme tem dois momentos, e começo por aquele que realmente impressiona pela sua dramaticidade, seu jogo de luz e sombra. As cenas de batalha, principalmente o desembarque americano na ilha, são incríveis – mesmo para quem não gosta de guerra. A aridez da ilha ajuda a constituir o cenário de penúria, falta de humanismo, terror. O outro momento é a turnê dos supostos protagonistas da façanha da bandeira pelos Estados Unidos, necessária para a construção do mito do herói. Aqui tem um pouco de melodrama, de trauma de guerra e até de racismo contra a população indígena. Não é o ponto forte. Vale a pena assistir ao trailer abaixo – dá uma noção do que são esses dois momentos opostos do filme.

O importante aqui é que uma produção não acontece sem a outra. São inteligentemente ligadas. Recomendo as duas. Nelas, a diferença entre as culturas americana e japonesa salta aos olhos. Interessante pensar que a primeira usa de artimanhas para manipular emocionalmente o povo em prol de mais recursos financeiros – tudo pela vitória, mesmo que isso signifique mentir; já a segunda, luta até o final, não abandona seu posto e prefere se matar a ser capturada pelo inimigo – tudo pela honra, tão presente na cultura oriental.

Acho que é por isso que o nome em português soa falso. O que os americanos conquistaram não foi a honra, foi o dinheiro e a vitória militar. Em inglês, o título fala da “bandeira dos nossos pais”, já que o filme é narrado pelo filho de um dos soldados. Nada mais. Parece que na nossa língua mãe, o título também está tentando construir heróis, não sendo nada imparcial. Nossa sorte é que temos os dois pontos de vista disponíveis para que nós mesmos tiremos a conclusão de quem é quem nessa história toda.

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